– Eu não quero perder muito tempo com brincadeiras agora. – Bianor fez duas luvas de couro preto aparecer em suas mãos – Já chega de fazer joguinhos com vocês.
– Não zombe antes do tempo! – Alexis falo – Você pode se sair muito mal.
– Não acredito nisso, mas se te conforta – Bianor ergueu as mãos e varias armas apareceram – Que vença o melhor. Escolham suas armas!
– E quem disse que confiamos em você? – falei.
– Imaginei que fosse dizer isso. – Bianor sorriu – Façam como quiser. Deixe apenas eu criar o clima.
– Que clima? – Nicardo perguntou.
– Esse clima!
Bianor levantou o braço direito e vários raios e trovões começaram a aparecer.
– Você é pateticamente previsível Bianor! – Linfa zombou – O que você anda lendo ultimamente?
Bianor não respondeu, apenas atirou um raio em nossa direção. Esquivamos e rapidamente nos preparamos para batalha. Realmente a hora de brincar havia acabado.
Alexis estava usando a espada mágica que ele mesmo criou. Neandro ainda estava com a espada do pai. Linfa, Thalassa estavam se preparando para fazer a nossa retaguarda. Cosmo estava protegendo Camila e Amadeus e Nicardo tentavam, desde já, distrair Bianor.
– Brinquedinhos – Bianor resmungou – Vocês não passam de brinquedinhos!
– Você não havia acabado de falar que não queria perder tempo? – Amadeus provocou.
Alexis aproveitou o momento para tentar acertar Bianor, mas ele foi mais rápido e se defendeu. Linfa e Thalassa também tentaram atacar, mas foram impedidas por Nínive. Neandro tentou atacar Bianor com a espada do pai, mas assim como Alexis ele foi impedido.
Eu assistia tudo, mas não estava parada. Algo em mim conseguia prestar atenção em tudo ao redor, sem perder o foco em Bianor. Estava atacando com bolas de fogo, mas sabia que isso não era o suficiente.
– Você precisa deixar que o poder de seu coração flua em todo seu corpo – uma voz feminina veio em minha cabeça. Não consegui identificar de quem era.
Alexis e Neandro estavam atacando com as espadas em um tipo de luta em conjunto. Eles até conseguiam atingir Bianor ás vezes, mas não era nada de grave. Eles não deveriam estar lutando.
Linfa e Thalassa agora travavam uma briga a parte. Elas e Nínive estavam se atracando no outro lado da “arena”. Nínive e Linfa pareciam duas bailarinas e lutavam graciosamente. Thalassa era a parte bruta da coreografia.
Amadeus e Nicardo continuavam distraindo Bianor, que aos poucos deixava de prestar atenção nos dois e se concentrava mais na luta. Amadeus e Nicardo tiveram que entrar na luta apenas com as próprias mãos.
Eu continuei tentando cansar Bianor atirando mais bolas de fogo e a voz em minha cabeça continuava me perseguindo. Ela estava começando a me irritar.
– Não é difícil – ela dizia – Bianor só pode ser derrotado quando o poder de seu coração for libertado.
– Que poder? – perguntava mentalmente – O que meu coração tem com essa história?
– Procurei achar o caminho que leva para o poder de seu coração! – a voz continuava.
Bianor diminuiu as investidas e começou a se defender. Não conseguia saber se aquilo tudo era apenas um joguinho ou se ele realmente estava lutando para valer, mas fosse o que fosse Bianor não estava usando toda sua força.
– Já está desistindo? – Neandro provocou.
– É claro que não! – Bianor respondeu rindo.
Antes que ele pudesse dizer alguma coisa Bianor o acertou com um raio roxo que fez Neandro voar para perto dos castelos.
– Menos um. – Bianor soprou o dedo indicador.
Alexis, Nicardo e Amadeus continuaram atacando e a voz já começava a me atrapalhar e tirar minha concentração na luta.
– Se você não achar o caminho para libertar o poder que existe em seu coração todos irão morrer. – a voz sabia como acalmar uma pessoa aflita.
Cosmo e Camila continuavam escondidos em algum canto. Cosmo parecia ter criado um campo de proteção invisível. Tudo o que seguia em direção a eles era arremessado para longe.
Linfa e Thalassa pareciam estar apanhando muito de Nínive, o que me deixava ainda mais aflita. Não queria que ninguém se ferisse. E a voz continuava em minha cabeça.
– Você sabe o que fazer. – a voz dizia.
– Quer sair da minha cabeça?! – gritei.
– Eu não posso ver o mundo de Ofir sendo destruído por conta de algo que eu ensinei. – a voz parecia estar triste.
– Quem é você? – perguntei.
– Eu sou Damaris. – a voz respondeu – O jovem espírito aprisionado no cristal.
– Damaris? – estava surpresa.
– Você precisa deter Bianor o mais rápido possível! – Damaris parecia estar tentando não se desesperar.
– Mas como eu faço isso? – perguntei – Eu não sei como libertar o poder em meu coração.
– Você precisa chegar ao caminho. – Damaris falou.
– Mas que caminho é esse? – perguntei.
– Você deve chegar ao caminho. – a voz estava ficando fraca.
Alexis, Nicardo e Amadeus também estavam muito feridos. De repente Bianor começou a atacar-los com muita força e eu havia parado de tentar distrair-lo com bolas de fogo e água.
Linfa e Thalassa já haviam sido derrotas. Camila e Cosmo haviam sido atingidos e só neste momento reparei que estava chuviscando. O meu sonho começava a se cumprir.
– Sou eu que você quer Bianor! – gritei – Você disse que não quer perder tempo com brincadeiras. Acho que você já perdeu tempo demais. Venha lutar comigo!
– Você já achou o caminho para libertar o poder do seu coração? – Damaris perguntou.
– Eu encontro depois! – respondi mentalmente.
– Você não pode se arriscar a morrer nas mãos dele. – Damaris tentava me alertar.
– Eu sei o que estou fazendo. – respondi.
– Eu realmente espero que saiba. – apesar de aflita, a voz de Damaris continuava meiga.
– Eu não sei o que te faz pensar que você também não seja um brinquedinho. – Bianor gritou – Se juntou a Mallory e mesmo assim o melhor que consegue fazer e atirar bolas de fogo. Poupe-me Beatriz. Eu que talvez tenha sido tolo demais em acreditar que um dia você poderia ser minha companheira.
Eu não sabia o que iria fazer, mas sabia que precisava fazer algo muito rápido. E não poderia ser apenas algo, teria que ser algo que realmente o parasse, mas o que?
Bianor não me deu tempo para pensar.
No mesmo instante Bianor já estava do meu lado, me jogando para perto de Linfa e Thalassa.
– Você é patética Beatriz. – Bianor estava com o rosto sangrando – Muito patética.
Um feixe de luz começava a surgir da mão esquerda de Bianor. Ele atirou o feixe em direção a minha cabeça.
Branco. Tudo o que eu conseguia enxergar era o branco. Abri os olhos e notei que estava sozinha no meio da escuridão. Não enxergava nada, até um rápido pulsar avermelhou o local. Esse pulsar parecia um coração batendo e comecei a seguir a luz avermelhada que estava piscando junto com o pulsar.
Não demorei muito para ver um coração batendo. Não era exatamente um coração humano, era o ícone do coração. Ele estava lapidado em uma pedra de rubi. Só então notei que não era uma simples pedra em forma de coração, era na verdade uma porta.
O pulsar parou e a pedra de rubi ficou exibindo a sua luz vermelha, porém agora estava mais fraca. A fechadura era a única coisa que continuava piscando.
Notei então que estava usando o pingente em forma de coração que já havia acreditado ter perdido. Ele começou a brilhar e flutuar como da primeira vez em que o usei. Retirei o pingente do cordão e testei na fechadura da porta. Funcionou.
Girei a maçaneta. Eu estava de volta.
– O que você estava dizendo mesmo? – perguntei.
– Mas por mil raios! – Bianor gritou – Eu já não havia dado um jeito em você?
– Acredito que tenha falhado! – respondi.
Feixes de luz começaram a surgir em minhas mãos. Os feixes cresceram até se tornarem raios. Atirei contra Bianor, que conseguiu se defender. Ele estava cansado, mas ainda era ágil.
Continuei atirando mais raios e ele continuou se defendendo, até que resolveu atacar revidando com bolas de luzes amarelas. Uma das bolas atingiu meu braço, arrancando a pele. Por alguns instantes eu fiquei apavorada, mas o ferimento se curou rapidamente e uma nova pele nasceu por cima.
Bianor estava assustado, mas não desistiu e continuou atacando. Eu defendi lançando tiras de luz e estourando as bolas amarelas e cortantes de Bianor.
Bianor resolveu mudar de tática e partiu com um soco. Defendi na mesma hora. Meus reflexos estavam bem melhores.
– Será que era esse o poder que estava escondido em meu coração? – perguntei a mim mesma.
– Você parece que estava escondendo o jogo. – Bianor estava ofegante.
– Você ainda não viu nada!
Uma onda de areia tomou conta do corpo de Bianor. Estava conseguindo controlar tudo o meu redor.
Bianor cambaleou e Nínive não conseguia se mexer. Sem perceber eu já havia arrumado todo o pandemônio que Bianor havia criado antes. Alexis e os outros estavam protegidos dentro de um escudo e eu havia parado Nínive no exato lugar onde ela estava.
Bianor tentou atacar, mas já estava completamente sem forças.
Um cristal apareceu flutuando em cima de Bianor.
– Você já sabe o que fazer.